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domingo, 23 de março de 2008

Mini-mix






Cheguei ao Brasil. Para ser mais preciso, São Paulo. Cidade grande, engraçada, todo mundo anda correndo. Não vejo a hora de ir para o Rio de Janeiro — não é lá que tem mulheres de maiô andando por toda a cidade e muita rumba e chá-chá-chá como som ambiente?

Não?

Ih, devia ter comprado um manual decente de viagem, e não alugar "Você Já Foi à Bahia?"...

Em minhas andanças urbanas, fui ao cinema. É muito engraçado — e quase promíscuo — ver cerca de 400 pessoas se aglomerando em uma fila, e correrem para pegarem as melhores cadeiras, quando em meu planeta basta comprar em qualquer banca de imagens uma tela de cristal líquido e plâncton de Centauro XR4 (porque o de Ômnion RPQ7 só oferecia 1.234.986 opções de cores), e assistir em casa, confortavelmente.

Mas, para os terráqueos, ir ao cinema é uma experiência única. Primeiro, tem aquela mania espetacular de decidir o que assitir, que quase me fez arremessar um de meus Partagas legítimos no cidadão — mas charutos estão pela hora da morte, e me contive. O casalzinho resolveu escolher o filme justamente na hora de comprar o ingresso! E, para o resto da fila, tome-lhe diálogos como:

— Paixão, vamos assistir "Neófitos em Fuga — Uma Aventura de Todd e Rob"?

— Ih, chuchuzinho, filme sobre dois caras que aprontam todas e montam uma editora de quadrinhos não deve ser muito interessante...

E os simpáticos continuaram lá, no guichê, pedindo até a opinião do bilheteiro. Não pude agüentar. Grasnei uns impropérios e finalmente escolheram o filme. Droga, o mesmo que o meu.

Apesar de a sala de espera estar lotada, esbarrei com as figuras no pipoqueiro. Preferiria muito mais assistir ao meu filme com um bom bloody mary nas mãos, mas o jeito foi escolher entre as promoções pipoca-refrigerante intituladas "Jumbo", "Mega Jumbo", "Carrinho de Mão" e "Você Não Come Há Quantos Dias?".

E o casal Paixão e Chuchuzinho (os terráqueos têm uns nomes esquisitos...) protagonizou um show da classe média:

— Chuchuzinho, eu quero a maior pipoca! Tô com fominha! — disse a mulher, em um tom infantil, que para ele prenuncia sexo, e para mim, câimbras no estômago.

— Ô, Paixão, vamos pedir a menorzinha... ela vem mais quentinha, mais gostosinha... — o cidadão retrucou, no mesmo tom infantilóide.

— Ah, não! — e Paixão já mostrou as garras — Eu quero a maior! Você não tem dinheiro, né? Mas se fosse para ir no estádio de futebol, você teria...

— Olha, vou te explicar uma coisa. Esta história de pipoca em cinema é coisa de americano, não é?

— Humm... é.

— Então, o americano médio tem 1,75m; lá nos Estados Unidos as pessoas são mais altas do que no Brasil. Aqui, o brasileiro tem mais ou menos 1,60m. Então, a pipoca não é proporcional ao tamanho do brasileiro, e sim, do americano. Vamos ficar com a pequena.

— É, você tem razão. — disse a anta, ou melhor, Paixão, ou conformada pela explicação capenga do namorado mesquinho ou porque engoliu essa mesmo.

Peguei minha pipoca — escandalosamente grande — e misturei na Coca-Cola um pouquinho de vodka. Quase fui pisoteado na entrada da sala de projeção; teve até uma maluca que para pegar um lugar jogou sua bolsa por cima da minha cadeira para guardar o lugar. E como a bolsa de uma mulher brasileira pesa, mais ou menos, uns dez quilos, quase fui esmagado.

Antes dos trailers, não entendi nada. Um comercial da rede de cinemas alertou os espectadores a desligarem seus celulares, não fumarem e jogarem os sacos de pipoca no lixo. Puxa... no meu planeta os direitos humanos estão muitos mais avançados. Quem atender a um celular em um espaço cultural é prontamente atacado pelo resto do público com tacos similares aos de beisebol aos gritos de "toma, safado!!!!". Mas aqui tudo é moleza, estatuto da ONU, pererê caixinha de fósforo...

Saco, quase um mês sem mulher e estou virando (mais) ranzinza.

O filme era uma mentira deslavada... dois atores com ternos pretos Armani, óculos Ray-Ban e se intitulando "funcionários de uma agência governamental que monitora alienígenas". Onde? Eu não passei por alfândega nenhuma! Bom, e mesmo que tivesse passado por uma, certamente o "bip-bip" do alarme seria ouvido a quilômetros de distância. Sabe cumé, né, trouxe umas lembrancinhas, uns souvenirs, tudo legal, é claro.

Ao fim, só me restou atirar algumas bolinhas de papel no povo que levantou quando o filme acabou — pô, eu quero ver os créditos!

It's the end, my old friend. The end.

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